terça-feira, 1 de julho de 2008

Matriz Perdida

Exposição em Artes Visuais – instalação de xilogravuras
Biblioteca Estadual Luiz de Bessa – Galeria da Passarela
17 junho a 08 de julho – abertura: dia 17/06, terça-feira.
artista: Tales Bedeschi
 

 

As grandes cidades contemporâneas recolocam a questão da percepção do indivíduo. As megaestruturas metropolitanas dizem respeito a uma escala que não é mais apreensível pela visão direta. Cria-se então uma metamorfose no campo da percepção, onde os habitantes da cidade são pequenos demais para torná-la uma só forma ou imagem que atenta para o foco do olhar.

A experiência da cidade causa a desestabilização da posição da qual se descortinaria o todo. Ao observador resta compartilhar o espaço, percorrê-lo em vez de fixar-se em um objeto isolado ou em apenas um golpe de vista. A cidade é um fenômeno irredutível a todo esforço unificador[1].

A construção do espaço público parte de uma sobreposição contínua de imagens na paisagem. O padrão tradicional das cidades dá lugar à implantação das megaestruturas arquitetônicas trazendo novos sentidos para o convívio urbano. Estratégias de revitalização transformam a cidade em museu, incitando ao voyeurismo e à percepção à distância. O habitante é espectador do espaço público.

Cravada em uma das regiões mais nobres de Belo Horizonte, a Biblioteca Estadual Luiz de Bessa abriga uma mostra que relaciona a experiência na galeria e a percepção da cidade. Matriz Perdida é uma instalação composta por 12 xilogravuras que traz uma releitura da "imagética belvederiana de desenho de paisagem". Impressas no mais fino e translúcido papel de arroz, as xilogravuras compartilham o espaço conosco, carregando, no ar, os mais minuciosos traços da goiva sobre a matriz. Construída em uma evolução de 12 etapas, a percepção da obra exige a realização de um percurso e também não se desvenda em um só ponto de vista.

Deslocando em torno e adentrando pelos vãos da instalação, o visitante faz confrontos com questões que vão além do limite daquele sítio, além das paredes de vidro da galeria. A imagética, os ritmos e a dinâmica de ocupação da composição remetem a localidades já visitadas e/ou freqüentadas pelo observador.

Suspenso e protegido dos fluxos da cidade, imerso em um aquário de vidro, o observador caminha e se expõe à mais tênue fragilidade e sutileza representadas pela volatilidade  das estampas em papel de arroz. De modo diferente do que se observa quando percorrendo a cidade, caminhar entre as gravuras significa repercussões e alterações imediatas: as delicadas paisagens estão sujeitas a sofrer as repercussões da menor influência dos nossos movimentos: mexem-se ao mínimo deslocamento de ar.

A paisagem gravada é transformada e remodelada a cada instante. O surgimento ininterrupto de novos desenhos corresponde a novas ocupações. Paisagens distantes, grandes colunas verticais e uma nova configuração, uma nova malha, uma outra dinâmica.

Como uma vitrine cercada, a Galeria da Passarela é quase totalmente tapada à exposição do Sol, vedada à vista do horizonte, ao azul do céu. Suas paredes de vidro trazem o cotidiano para dentro da mostra, revelando a conformação do espaço da cidade: enormes estruturas que nos direcionam a vista e nos reduzem à escala mínima.

No "cubo" de vidro, uma instalação que nos articula o tato, que se movimenta com a nossa presença e que nos compartilha intimamente o espaço real. Trazida para o campo da experiência individual, as paisagens suspensas no ar sugerem que sejamos sincronicamente responsáveis pelo movimento desta mutação. Um convite a um passeio delicado e minucioso. Um ambiente em tensão que articula o ser/estar na cidade, suas imagens e seus sentidos. Matriz Perdida é uma instalação com xilogravuras que ressalta o sentimento de perda da paisagem memorial, o fluxo compulsivo de novas visualidades: imposição da nova forma e experiência da cidade.

 

Tales Bedeschi possui graduação em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006), habilitação em Gravura e cursa a Licenciatura em Artes Visuais na mesma instituição. Participa do grupo de pesquisa coordenado pela Profa. Dra. Lucia Gouvea Pimentel, denominado Ensino de Arte e Tecnologias Contemporâneas. Sob a orientação da professora, ministra o Curso Livre de Xilogravura, já em sua quarta edição, realizado na Escola de Belas Artes e no Centro Cultural da UFMG. Desde 2005 coordena o Projeto ACasa, na realização de um festival paralelo em Diamantina, que converge diversas iniciativas artísticas comunitárias. Em 2007 participou do II Projeto Território, do Museu Mineiro. Realizou exposições no Brasil e no exterior e é um dos fundadores atuantes do coletivo de artistas Kaza Vazia – galeria de arte itinerante, que apropria de espaços urbanos não convencionais e propõe o fomento de um circuito alternativo a criar novos sentidos para práticas curatoriais.

Referências: http://talesbedeschi.blogspot.com; http://kazavazia.blogspot.com; http://projeto territorio.blogspot.com;

Contato para maiores informações e agendamento de visita:

E-mail: tales.ar_vo@yahoo.com.br

Telefone: (31) 96691430

 

Visitação: Até o dia  08/07.

Galeria da Passarela: Rua da Bahia, 1889, Bairro Funcionários, Belo Horizonte, MG.

Horário de funcionamento na galeria: segunda a sexta de 08 às 20 horas e aos sábados das 08 às 12 horas.

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